
O Tarot di Bertazzi -
CARTA II - O CAFEZINHO
Uma figura andrógina senta sobre um crânio humano. Ergue com as duas mãos uma xícara de café. Ela é coroada com uma auréola dos sábios e tem como ornamento O Grande Olho. A carta está dividida ao meio. Do lado esquerdo vemos o que parece ser um monte verde sobre uma campina. Um animal fantástico vaga pela relva sob a luz do luar e das estrelas. Do lado direito, vemos um dia claro, com o sol iluminando uma cidade. Existe uma máquina que soltando fumaça no canto inferior direito.
Um riacho límpido separa o mundo bucólico e sereno do mundo concreto e grosseiro. Uma pequena ponte une os dois lados.
Análise da carta
O Cafezinho é um arcano de início. É aquele que abre as portas da percepção, liga realidades paralelas, eleva o espírito para um grau de consciência mais elevado. Onde antes havia noite, agora é dia. É o poder de O CAFEZINHO na mente e espíritos daqueles que o buscam.
No lado esquerdo da carta, vemos um cenário noturno, bucólico e lúdico. Um pequeno arbusto, livre, se oferece à qualquer um que queira toca-lo. Ele não pertence à ninguém. Um animal fantástico, alado e desconhecido vaga tranquilamente pelas campinas, ao fundo enxergamos um morro que se ergue sobre uma pequena floresta. No cume deste mesmo morro, vemos um pequeno broto vegetal que tenta tocar o céu. É o desejo da terra de se fundir com céu estrelado, iluminado pela lua. Tudo é possível, enquanto se sonha.
O pequeno animal parece curioso para conhece o outro lado. Parece disposto a atravessar a ponte que separa os dois mundos. “O que existe do lado de lá?” - deve estar se perguntando.
Do outro lado, vemos um mundo árido. O sol quente castiga a região e uma pequena nuvem corta céu. Em algum lugar da urbe, uma sombra se instala, trazendo refrigério momentâneo aos habitantes dali. O asfalto tomou o lugar do gramado. Um muro se ergue, dividindo em territórios. Uma máquina fria e sem vida, cospe fumaça e parece ávida a tomar o lindo mundo verde à sua frente, do outro lado do riacho. Ao fundo vemos uma movimentada cidade. Um centro urbano ruidoso. Propagandas se erguem sobre os edifícios e não há a presença de um único vegetal, nenhuma planta resiste à dureza do solo e a secura do ar.
Ainda sim, é um mundo que prospera e ganha espaço. Não há como ignora-lo e viver apenas num mundo de sonhos.
O Cafezinho desperta e traz a tona o mundo real. Ele dá vigor, coragem e inteligência necessária para sobreviver aos mais difíceis desafios. Ele transforma o breu em claridade e nos faz seguir em frente.
A personagem andrógina, indica que O Cafezinho não faz qualquer distinção de gênero, raça, credo. Ele age de forma igual em todos nós. Note que a maior parte do corpo desta figura ainda se encontra do lado esquerdo, no mundo dos sonhos. Significa que ele frequenta com cautela o mundo real, mostrando apenas as habilidades indispensáveis para sua sobrevivência: os membros superiores e inferiores. É o mundo da ação, do ir e vir. Sua cabeça e coração continuam presentes do mundo noturno e pacífico e senta sobre um crânio humano, de proporções enormes. Ela conhece a história de seus antepassados e descansa tranquila sobre as histórias dos gigantes que já caminharam pela Terra, não deixando que seu legado desapareça sobre concreto.
Ela é a guardiã das águas ainda puras. Ela é a própria ponte que une dois mundos opostos, que são na verdade, o mesmo mundo, a mesma realidade. Novamente, como na carta O TANSO, o passado e futuro estão dispostos da esquerda para a direita, sendo unidos por uma figura central, ornamentada com a grande auréola dos sábios que enxerga além das aparências e consegue enxergar ao mesmo tempo, a verdade única, em mundo completamentes diferentes.